Fui no sábado, dia 26 de Fevereiro de 2005, ver a exposição que está na Biblioteca Nacional , intitulada "Conta, Peso e Medida. A ordem matemática e a descrição física do mundo", cujo catálogo, também disponível se chama "O Livro Científico dos Séculos XV e XVI". Foi uma visita magnífica guiada pelo Prof. Henrique Leitão, investigador de História da Ciência.
Houve cerca de dois anos e meio de investigação dos fundos científicos antigos da BN, em que se examinaram sistematicamente cerca de 5000 livros, tendo sido seleccionados cerca de 1000 possíveis de serem aqui expostos, dos quais podemos apreciar 140. Alguns são obras originais, raras e valiosíssimas, que é um verdadeiro privilégio poder observar ao vivo.

(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)
Desta vez, nenhuma das fotos aqui apresentadas, foi tirada por mim, mas não quiz deixar de ilustrar mais esta visita dos Amigos dos Castelos.

Conta Peso e Medida é o nome da exposição que mostra obras de Arquimedes, Euclides, Nicolau Copérnico e muitas outras personalidades da ciência, com destaque para os séculos XV e XVI. As obras fazem parte do espólio da Biblioteca Nacional. Astronomia, Geometria, Aritmética, Matemática e Física são os pincipais temas abordados na exposição através de obras que fazem parte da história da ciência mundial. Aqui estão, por exemplo, algumas primeiras edições de livros de Euclides e Arquimedes e trabalhos únicos de astronomia com diagramas móveis que permitiam fazer cálculos celestes.

(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)
A estrutura da mostra divide-se em oito áreas:

  • Euclides e os Elementos de Geometria;
  • Astronomia e ordem do mundo;
  • Matemática e o mundo físico;
  • Aritmética e álgebra;
  • Autores portugueses;
  • Tecnologia e aplicações;
  • Instrumentos matemáticos e científicos, e
  • Filosofia natural e tradição enciclopédica.
Matemática e o mundo físico. Algumas disciplinas científicas - a óptica ou a mecânica, por exemplo, para além, naturalmente, da astronomia - foram estudadas matematicamente desde muito cedo. A história do seu desenvolvimento confunde-se com a história da génese e desenvolvimento da Física moderna. Neste núcleo exibem-se as famosíssimas obras de Arquimedes, Alhacen, Guidobaldo del Monte, Swineshead, Vitelio, etc., obras fundamentais para a compreensão da realidade física e que são verdadeiros marcos na história intelectual da humanidade


(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)
Instrumentos matemáticos e científicos. Medir (tempo, distâncias, peso, ângulos, etc.) foi sempre uma necessidade imperiosa de toda a investigação científica da natureza. Toda a ciência parte do exame atento da realidade e avança considerando os aspectos quantitativos da realidade. A construção e aperfeiçoamento de instrumentos científicos ocupou as mais brilhantes mentes científicas e deu origem a uma literatura própria de grande riqueza. Apresentam-se neste núcleo alguns dos mais importantes livros de instrumentação dos séculos XV e XVI, sobre o astrolábio, a balestilha, relógios de Sol, etc.


(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)
Astronomia e ordem do mundo. Desde a Antiguidade até aos nossos dias a astronomia suscitou sempre imensa curiosidade. A surpreendente regularidade dos movimentos celestes, a sua importância na vida dos homens, e o facto de os fenómenos astronómicos se oferecerem à contemplação de todos, tudo isto tornou a astronomia num campo privilegiado de estudo e também de discussão e debate. A BN possui uma notável colecção de obras sobre astronomia, entre as quais se contam várias edições quinhentistas do Almagesto de Ptolemeu, a 2ª edição do celebérrimo De revolutionibus de Copérnico, as Tábuas afonsinas, o Almanach perpetuum de Zacuto, as muito populares obras de Sacrobosco e de Pedro Apiano, bem como alguns livros ornados com belíssimos diagramas móveis.


(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)
Poucas obras foram tão influentes na história da humanidade como os Elementos de Geometria de Euclides e, com a excepção da Bíblia, nenhum livro foi editado tantas vezes. Durante mais de vinte séculos o seu estudo foi obrigatório para todos os que pretendessem ter conhecimentos de matemática. Os Elementos de Euclides não são valiosos apenas pelos resultados que contêm: pela sua estrutura, encadeamento e rigor eles tornaram-se como que um programa e um símbolo de toda a matemática. No século XVI assistiu-se a um importantíssimo movimento de recuperação, comentário e difusão do texto euclidiano. Neste núcleo apresentam-se algumas das mais famosas e raras edições dos Elementos de Euclides: a primeira edição (1482), as famosas edições de Paris e de Basileia, alguns dos mais célebres comentários.


(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)
Aristóteles 322 a.c ( Physycorum Aristotelis Libri VIII) / (Trad ) Argyropylo, Francisco Vatablo. _ Lovanii : apud Servatium Zassenum Diestensem, 1532 BN SA. 4596 A. Cat. Livro Científico 92. Uma página que testemunha bem o interesse e a importância da Física de Aristóteles no século XVI.


(foto publicada no site da Biblioteca Nacional)


Pude ver também a segunda edição do livro "De Revolutionibus" de Copérnico de 1566.
Primeira edição dos Elementos de Euclides

Vi, por exemplo, a primeira edição dos Elementos de Euclides, de 1482, um livro com uma apresentação gráfica belíssima, já com muitas gravuras apesar de ter sido editado pouco tempo depois de inventada a tipografia (em 1455 Gutenberg termina a primeira impressão tipográfica).
Vi ainda, "Almagesto" de Ptolomeu, a primeira edição impressa das obras de Arquimedes, as primeiras edições impressas de Boécio, de Vitelio, de Tartaglia e as de vários autores portugueses, como Pedro Nunes.

Pedro Nunes homenageado num selo.

É a primeira vez que em Portugal se mostra um conjunto de livros científicos tão importante como este, que testemunha a existência de uma história cultural e científica muito importante em Portugal.

Quase todos os livros expostos são de Matemática.

Na navegação do século XVI obrigava-se o navio a seguir na superfície do mar uma trajectória tal que o ângulo da direcção do movimento com o meridiano se conservasse constante. A esta curva dava-se então o nome de linha do rumo e dá-se hoje o nome de loxodromia. A direcção do meridiano era dada aproximadamente pela agulha magnética da bússola.
Julgavam os pilotos e estava mesmo escrito na Arte de marear de Faleiro que as linhas de rumo coincidem com círculos máximos da Esfera terrestre.
Ora, o cosmógrafo real Pedro Nunes mostrou que as linhas de rumo são geralmente espirais esféricas que dão um número infinito de voltas à roda dos Polos da Terra e que as únicas linhas de rumo circulares são os meridianos e os paralelos, que correspondem evidentemente aos ângulos de rumo de zero e de noventa graus.
A distância mínima a percorrer por um barco entre dois pontos da Terra não é uma linha recta, mas um arco, a loxodrómica.

Isto pode parecer simples e evidente, mas demorou muito tempo a que os navegadores o entendessem. O primeiro a percebê-lo em toda a sua extensão foi o nosso Pedro Nunes.
Ao descobrir a linha de rumo, Pedro Nunes provou também que um barco que, hipoteticamente, num planeta completamente coberto de água, seguisse sempre uma mesma direcção cardeal, acabaria por não regressar ao mesmo lugar, como na altura se pensava, mas seguiria uma espiral infinita, aproximando-se de um dos pólos, mas nunca o alcançando.
O nosso matemático teve a intuição de que os antigos mapas portulanos tinham de ser refeitos, mas foi Gerardus Mercator (1512-1594) quem haveria de originar uma revolução em cartografia, com base na descoberta de Pedro Nunes.
Posted by Acilina
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